sábado, 19 de julho de 2008

the shelting sky


Nunca tinha chorado com livro. Até então. Acho um saco me desmanchar no cinema (idem para a vida real). Mas perdi todos os meus pudores na primeira vez que li As cartas, do Caio Fernando Abreu. Lembro exatamente em que circunstância e ambiente eu estava quando não consegui me controlar com algo tão pessoal, com um sentido tão específico, dirigido a uma pessoa em particular. Caio escrevia a Jaqueline e eu entendi todas as entrelinhas, palavra tentando ofuscar dor, fantasiada de carnaval. Passei anos tentando evitar uma segunda leitura do livro, outros tantos tempos fugindo de uma terceira. Porque eu sabia que igualmente ia me ferir e eu não sou de espetar o dedo onde machuca.
Hoje, de bobeira, li uma das outras cartas, aleatoriamente, como quem abre um daqueles capciosos livros de salmos. Outra carta para Jaqueline e uma fisgada no peito reincidente. E no meio de uma descrição de um filme com o John Malkovich, me meti outra vez entre o Caio e a Jaqueline, e chorei tudo o que havia evitado e estava engasgado na segunda e na terceira leitura.

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