
Viver pode ser um dedo continuamente espetado na ferida.
O filme começou com um trecho de Pessoa, fazendo com que, com urgência e imediato, eu baixasse a guarda para ser dilacerada. Me borro de medo de filmes - espelho-da-minha-própria-alma-ali-refletida. É como se, de repente, na surdina, alguém espalhasse todos os meus segredos em cartazes de lambe-lambe pela cidade.
Mãe Dináh estava errada, mas eu não. O filme abarca todos os adjetivos mais lindos do mundo inteiro para qualificar fragmentos, histórias mínimas tingidas de negro, retornos bordados de furta-cor, vidas pairadas sob gente embaçada.
E como dói, mói, tortura. É lindo porque se sofre com gravidade, com veemência e sem dignidade, deep down and even more, e quase todo mundo, inconscientemente, acaba pedindo por mais, porque tristeza pouca é bobagem. É bem por aí.
E assim, como reação em cadeia, comecei a protagonizar os silêncios, os hiatos ruidosos por falta de palavra, as indagações impertinentes, as pequenas explosões causadas sem pólvora; as tormentas internas formadas pela falta de identidade. A vida sem gosto aparente, o olhar sem ver.
Incomoda, perturba e angustia, quase como asfixia, fazendo com que se puxe o ar com mais e mais força, com vontade e com temor.
"Fui, como ervas, e não me arrancaram."
Fernando Pessoa
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